Cada dia é uma vida

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janeiro 5, 2018 por Laís Grilletti

As manhãs são aquela infância bem florida, em que tudo tem gosto de novidade fresca, como a brisa que bate cedinho antes do sol ficar mais forte. Oficialmente, o horário de pico dos parquinhos que recebem babás e bebês com fila de espera no balanço.

É a esperança de um dia produtivo, uma página em branco e o futuro que começou no instante em que você desligou o despertador e pulou da cama direto para o chuveiro. Mais uma voltinha que a Terra dá só para nos ajudar a renovar as expectativas pelo que vem por aí.

Meio-dia. O sol é tão forte que foi da manhã ensolarada para o calor de matar em questão de horas, entre um passeio e outro de elevador. Lá fora está muito quente, abafado e você não quer mais estar na própria pele: é desconfortável e sufocante. Você pensa que poderia mudar o rumo daquele dia se, em vez de voltar do almoço, deixasse família, amigos e tudo para trás, só para viver a tarde de um jeito não planejado. Adolescência pura.

Mas, você volta da rua. O banho de gelo do ar-condicionado te lembra que viver também é ter responsabilidades, pagar as contas e virar adulto se torna uma tarefa bastante inevitável. Você decide voltar ao trabalho. Olha para o relógio do monitor e já são três da tarde. E você não fez nada além de participar de reuniões e deletar e-mails. O que é mesmo que você tem feito com seu dia? Como ele pode passar assim tão rápido?

Segure-se na mesa porque já está chegando a hora mais triste do dia: o entardecer da alma. Uma mistura pôr-do-sol alaranjada de tristeza, alegria e nostalgia que nos faz parar por dez minutos perto da máquina de café para nos dar conta de como o dia passa rápido – ao contrário do seu cappuccino que não fica pronto nunca.

Seis horas. Parece tarde. Começar algo novo agora não valeria a pena. Logo mais você já está guardando suas coisas, desligando o computador e partindo. Enquanto o dia envelhece um pouco mais, você já pensa em encerrar os trabalhos, ir para casa e sentar no sofá esperando o sono chegar. O que tinha que dar já deu.

Na saída do escritório, você ouve alguém gritar: Vem com a gente pro karaokê? Você se vira e pensa: por que não? O dia já envelheceu, mas a noite ainda é uma criança.

 

 

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